CONTO DE ANIMAIS

ATU 15 - A raposa finge ir a um batizado

A raposa e o lobo

José Manuel Pinto, 1920 – (?) Brotas,Mora

Registo de 2007, Mora

Uma raposa consegue comer a manteiga do seu compadre lobo e escapa às culpas do seu ato enganando-o uma segunda vez.

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A raposa e o lobo - Carlos Augusto Ribeiro

Transcrição e inventariação

Comentário

Pertencendo ao ciclo da Raposa e do Lobo, este conto é um dos mais populares em Portugal. Estão recenseadas 123 versões desta história que habita a tradição oral da Europa e África.
“A raposa foi sempre um bicho muito velhaco. É um dos bichos mais velhacos que existem e então tentou enganar o lobo.” Assim começa este conto. Estas relações de desconfiança entre lobo e raposa mantêm-se inalteradas desde que Esopo publicou as Fábulas na Grécia clássica, há 2600 anos. Esopo parece ter nascido em África, de onde traz um imaginário repleto de animais que falam, as fábulas. As fábulas terminam sempre com uma moral.
Em Portugal, algures pela Idade Média, estas narrativas perdem o pendor moralizante, mantendo a ação e os temas, passando a ser considerados contos. Esta versão começa com a comida na posse do Lobo – seguindo o modelo da fábula LXV de Esopo, “Um Lobo precavido abasteceu muito bem o seu covil de mantimentos…” - e não, como é mais corrente hoje em Portugal, ser esta o produto de um esforço comparticipado pelos dois animais.
 Outro motivo incomum é o facto de a Raposa pedir ao Lobo uns sapatos, talvez uma metáfora para não “ficar descalça” uma expressão que significa perder algo importante, ou talvez uma memória de tempos duros e não muito distantes, em que havia mais pés descalços do que sapatos.

A raposa e o lobo -Tânia Clímaco

Distribuição

Contando com 123 versões, este conto é conhecido em todos os distritos de Portugal continental, com particular expressão nos distritos de Faro, Vila Real, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora e Aveiro.
Embora se conheça uma versão proveniente dos Açores não foi ainda encontrada nenhuma na Madeira.
Nos países lusófonos vamos encontrar duas versões em Angola, duas em Cabo-Verde e dez no Brasil.
Este conto existe praticamente em toda a Europa, Índia, Médio e Estremo Oriente, África central e do Sul e nas Américas. Note-se que nas Ilhas Britânicas este conto só aparece nas nações de fala gaélica.

Referências de Leite de Vasconcelos Contos e Lendas, primeiro volume (1963) e segundo volume (1966) e o primeiro volume do Romanceiro (1958). 

“A Raposa e o Lobo” in Vasconcellos 1963, nº 27
“A Raposa Mariana” in Vasconcellos 1963, nº 28, Matela, Vimioso, Bragança
“Um Lobo e uma Raposa Matreira” Vasconcellos 1963, nº 29, Porto (J. de Oliveira)
“O Lobo e a Raposa” in Vasconcellos 1963, nº 30, Aveleda, Bragança