Partindo de uma recolha de relatos, crenças e cantigas
realizada em territórios do Alto Minho pela Memória Imaterial CRL, este espetáculo propõe revisitar essa
prática antiquíssima de contar histórias. Tem a forma de uma roda, um círculo
de pessoas, na qual os contadores de histórias entretecem as suas narrativas,
num diálogo informal entre si e o público. Um espetáculo que restaura assim um
espaço ancestral de partilha de afetos, saberes e esperanças, de um património
que, enraizado numa paisagem singular, fala dos laços que nos unem a todos.
O património oral recolhido nos concelhos de Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira, além de revisitado neste espetáculo, está registado em vídeo, num processo de criação de que resulta ainda um documentário.
Esta é uma coprodução entre o LU.GAR da Memória Imaterial CRL e a companhia de teatro Comédias do Minho.
Vídeo: Comédias do Minho
Vila Nova de Cerveira
13 a 15 de Janeiro
Narradora convidada: Cristina Taquelim
13 de Janeiro • Junta de Freguesia de Mentrestido / 21h
14 de Janeiro • Centro de Cultura de Campos / 21h
15 de Janeiro • Junta de Freguesia de Gondarém / 16h
Paredes de Coura
20 a 22 de Janeiro
Narradora convidada: Paula Carballeira
20 de Janeiro • Junta de Freguesia de Moselos / 21h
21 de Janeiro • Antiga Esc. de S. Martinho de Coura / 21h
22 de Janeiro • Junta de Freguesia de Vascões / 16h
Valença
27 a 29 de Janeiro
Narrador convidado: António Fontinha
27 de Janeiro • Sede do Rancho de São Julião / 20h30
28 de Janeiro • Junta de Freguesia de Arão / 21h
29 de Janeiro • Sede do Rancho de Friestas / 16h
Monção
3 a 5 de Fevereiro
Narradora convidada: Ana Sofia Paiva
3 de Fevereiro • Ed. Esc Primária de Pereiras, Ceivães / 21h
4 de Fevereiro • Casa do Passal de Pinheiros / 21h
5 de Fevereiro • Junta de Freguesia de Lapela / 16h
Melgaço
10 a 12 de Fevereiro
Narrador convidado: Luís Correia Carmelo
10 de Fevereiro • Salão Paroq. de Parada do Monte / 21h
11 de Fevereiro • Ass. Os Cucos, Esc Prim de Roussas / 21h
12 de Fevereiro • Associação A Batela, Alvaredo / 16h
Entrada livre
M/12
75 min.
Melgaço
3 a 6 de Novembro
3 de Novembro – C. Cívico de Castro Laboreiro / 21h00
4 de Novembro – Casa da Cultura de Melgaço / 21h30
5 de Novembro – C. de Convívio de Penso / 21h00
6 de Novembro – J. de Freguesia de Paços / 16h00
Valença
10 a 13 de Novembro
10 de Novembro – Auditório de Verdoejo / 21h00
11 de Novembro – Auditório CILV (ESCE-IPVC) / 21h30
12 de Novembro – J. de Freguesia de Gandra / 21h00
13 de Novembro – J. de Freguesia de Fontoura / 16h00
Paredes de Coura
17 a 20 de Novembro
17 de Novembro – J. de Freguesia de Romarigães / 20h30
18 de Novembro – C. Cultural de Paredes de Coura / 21h30
19 de Novembro – J. de Freguesia de Formariz / 20h30
20 de Novembro – Escola Primária de Cunha / 16h00
Vila Nova de Cerveira
24 a 27 de Novembro
24 de Novembro – Salão Paroquial de Covas / 21h00
25 de Novembro – Cineteatro de V. N.ª de Cerveira / 21h30
26 de Novembro – J. de Freguesia de Nogueira / 21h00
27 de Novembro – Esc Primária de Candemil / 16h00
Monção
8 a 11 de Dezembro
8 de Dezembro – C. Int. do Castro de S. Caetano / 21h00
9 de Dezembro – Cine Teatro João Verde / 21h30
10 de Dezembro – J. de Freguesia de Merufe / 21h00
11 de Dezembro – Salão Paroquial de Moreira / 16h00
Torres Vedras
14 a 18 de Dezembro
14 de Dezembro - J. de Freguesia em Maceira/ 14h30
15 de Dezembro -
Casa do Povo do Turcifal/ 14h30
16 de Dezembro - Casa do Povo do Ramalhal/ 14h30
17 de Dezembro - S. Paroquial S. Pedro da Cadeira/ 16h00
18 de Dezembro - C. de Cultura de Campelos
/ 16h00
Em busca da tradição
oral no Alto Minho
As fronteiras sempre foram espaços liminares onde
identidades diferentes se cruzam e se nutrem mutuamente. O estremo Noroeste
português e a raia espanhola de fala galega não são exceção, com a vantagem de
o “estrangeiro” aqui ser o vizinho próximo, na língua e nos modos de sentir e
viver o mundo, individualmente ou em comunidade.
Uma história já longa separou a Galiza e Portugal a partir
de uma cultura unificada por volta dos sec. XII-XIII. No entanto, estes dois
povos irmãos, muito por força da proximidade e das contingências da história, têm
vindo a cruzar a fronteira natural que é o rio Minho bastas vezes séculos
afora.
A breve recolha de testemunhos orais que no ano de 2022 esta
equipa realizou nos concelhos de Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e
Vila Nova de Cerveira, mostra bem que alguns habitantes desta zona raiana
conservaram na memória quer lembranças de uma história comum com a Galiza, no
contrabando por exemplo, mas também nas crenças e nas lendas cujos enredos e
personagens se espelham nas águas do rio Minho. Neste caso, são de realçar as
histórias de lobisomens e das procissões das almas (os acompanhamentos), bem
como a profusão de histórias tidas como verídicas sobre as almas penadas de
familiares ou amigos.
A moura e o leite de cabra
Angelina Fernandes
Castro Laboreiro – Melgaço
2022
Grosso modo, estes relatos fazem um retrato de um mundo
pretérito onde o mundo rural e suas formas de vida estão sempre presentes: nos
trabalhos coletivos, nas brincadeiras, nos namoros, nas desavenças. Este mundo
onde a separação entre o dia e a noite é pronunciado, abre um portal para o
mundo sobrenatural quando o sol desaparece no horizonte. As múltiplas
narrativas que circulavam sobre criaturas fantásticas como a “coisa má”, as
bruxas, os lobisomens, os aparecidos, etc. alimentam uma mentalidade religiosa
profundamente crente, mas onde o catolicismo oficial deixa espaço a uma
religiosidade popular que por vezes roça o paganismo.
Num mundo que parece abandonado a si próprio e a quem nele
vive, a sobrevivência do indivíduo e da comunidade em que vive depende, muitas
vezes, da entreajuda entre humanos e, principalmente, das crenças nas ajudas
mágico-religiosas. Aqui se podem elencar as orações e responsos, quase todas a
pedir proteção à divindade, e as rezas e benzeduras, por vezes acompanhadas de
rituais e ervas medicinais, mas onde o lado da magia é bem visível. Quando a
saúde, humana ou animal, periclita numa sociedade rural sem ajudas da medicina
moderna, são estas as vias mais correntes para obter a cura dos males. Estas
crenças e dependência dos curandeiros levam por vezes a burlas, que também são
aqui denunciadas.
Também é plausível pensar que, numa sociedade fechada sobre
si mesma, controlada pelas tradições das famílias e da igreja, onde todos se
conhecem, os conflitos inevitáveis entre indivíduos ou grupos se transfiram
para o plano simbólico, no qual um(a) vizinho(a) suspeito(a) pode rapidamente
ser considerado(a) bruxa ou lobisomem. Entre as capacidades maléficas
atribuídas aos inimigos da comunidade é de destacar a crença no mau-olhado,
relacionado com a inveja. Da mesma forma que a sociedade dos vivos é próxima, a
dos mortos também se mantém não muito longínqua, sendo possível o contacto
entre vivos e mortos.
A vida dura nos campos, a lavoura com animais, a pastorícia,
o longo ciclo da transformação do linho e a emigração deixaram, como muitos dos
relatos indicam, uma marca indelével na memória coletiva destas comunidades,
apenas amenizada pela lembrança dos momentos de lazer e entretenimento, os
bailes, as partidas, os namoros e as saídas em grupo onde o canto tradicional
estava quase sempre presente.
As feiticeiras
Armando Domingos,
Maria Barreiros,
Maria das Dores,
Maria Glória (Lola)
Riba de Mouro - Monção
2022
Se o espaço é fechado sobre as aldeias e propriedades agro-pastoris
que as circundam, o tempo também é circular e adaptado aos calendários agrícola
e religioso. O ritmo diferenciado das tarefas específicas em cada uma das
quatro estações do ano e as festividades cristãs que marcam os dias com nomes
de santos e celebram a rigor a época natalícia, a Quaresma, a Páscoa (dando
também lugar ao Carnaval e seus excessos), impregnam o modo de viver das
comunidades. As tradições repetidas a cada ano tornam estas sociedades
conservadoras, autossuficientes e sem grande apetência para a mudança. Só as
recentes forças da modernidade, a luz elétrica, os transportes, etc. puderam
transformar estas comunidades alterando os seus modos de vida a ponto de os
levar à beira da extinção. Ficam, no entanto, as memórias do “tempo antigo” que
também fazem parte da identidade coletiva e que aqui fica documentada uma
pequena parte para as gerações futuras.
Paulo Jorge Correia
FICHA ARTÍSTICA
Direção artística: José Barbieri
Encenação: Luís Correia Carmelo
Narração: Cheila Pereira, Luís Filipe Silva, Rui Mendonça, Sara Costa
Participação especial: Ana Sofia Paiva, António Fontinha, Cristina Taquelim, Luís Correia Carmelo, Paula Carballeira
Formação: Ana Sofia Paiva
Recolha e registo: Memória Imaterial CRL
Documentário: João Gigante
Apoio científico e catalogação: Paulo Correia
Coprodução: Comédias do Minho e Memória Imaterial CRL