CONTO MARAVILHOSO

ATU 433B O Rei Lindorm + ATU 425A O Monstro (Animal) como Noivo (Cupido e Psique)

O rapaz porco

Maria Bernardina Galvão Coelho, 1939, Mora

Registo de 2007, Mora

Um rapaz nasce encantado e só a persistência de uma esposa lutadora lhe quebra o feitiço e permite uma vida de felicidade a dois.

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O rapaz porco - Carlos Augusto Ribeiro

Transcrição e inventariação

Comentário

Este conto pertence ao género dos Contos Maravilhosos, que possuem elementos fantásticos impossíveis de encontrar no mundo quotidiano dos ouvintes.
Faz parte do ciclo do Noivo Animal, que tem como denominador comum o facto de existirem dois personagens casadoiros – um masculino e outro feminino – em que um deles está “encantado”, pertencendo a um mundo diferente do humano. Tem, por isso, uma aparência animal.
O desenrolar da ação continua com a formação do “casal” desigual que chega a uma conjunção igualitária (humana) temporária.
Segue-se o quebrar de um tabu que leva o ser encantado a voltar à sua forma animal, desta vez desaparecendo rumo ao “outro mundo”. O parceiro humano parte em busca do ser sobrenatural, ultrapassando diversas provas antes de encontrar e casar com o seu par, desta vez numa conjunção igualitária permanente.
A presente versão é compósita (tem dois tipos, um a seguir ao outro). O primeiro tipo, a que se convencionou chamar Rei Lindorm, relata a origem fantástica do herói, neste caso motivada por um desejo contranatura de uma mulher infértil, cujo desejo se realiza literalmente: nasce um bebé-porco. A ação continua seguindo o tipo Cupido e Psique, onde o desencantado estabelece claramente as regras que os devem unir, seguindo-se a quebra do tabu e o desaparecimento do encantado.
Os contos maravilhosos, por serem compostos de muitos episódios cuja ação é demorada e complexa, costumam ter alguma variação circunstancial, embora respeitem normalmente os padrões conhecidos de cada um dos tipos elencados.
No início, algo que varia é o animal no qual o príncipe está encantado. Em Portugal, o mais comum é o lagarto, seguido pelo urso. Por vezes também surge um bezerro, cavalo ou porco. Quando aparece em forma de pássaro estamos em presença de uma contaminação de outro conto. Quando o início do conto surge como Rei Lindorm, as raparigas são três, mas quando estamos perante um ATU 425A independente, só existe uma “noiva”.
Ao longo da narrativa há episódios típicos em que costuma haver mais variação. No caso da quebra do tabu, que dá origem ao desaparecimento do encantado, a ação pode ter como protagonistas a mãe ou a irmã deste último, queimando-lhe a pele, deixando cair um pingo de cera na cara ou picando-o. Esta ação também pode ser desencadeada pela revelação de um segredo.
As visitas às casas do Sol, Lua e Vento também sofrem variações consideráveis. Podem coexistir estas forças da natureza e respetivas mães, ou não, e os objetos mágicos doados também variam. A viagem da heroína até ao reino encantado do marido também pode ser proporcionada pelo Vento, por um pássaro ou caminhando com sapatos de ferro até os gastar. O episódio do reconhecimento, também está sujeito a variação. Por fim, a fórmula da chave velha e nova, pode ser substituída por outra análoga ou não existir.

O rapaz  porco - Olga Neves

Distribuição

Individualmente, o ATU 433B conta com 19 versões em Portugal e o ATU 425A com 70 versões. Porém, como esta versão é uma narrativa onde os dois tipos se contaminam, só existem 6 versões assim compósitas no nosso território (2 versões no distrito de Faro, e uma respetivamente nos distritos de Beja, Évora e Porto).
Nos países lusófonos foram encontradas duas versões (compósitas) em Cabo-Verde e três no Brasil. O conto ATU 433B encontra-se distribuído por toda a Europa (com exceção da Rússia), nos países Árabes, Índia, Extremo Oriente e África sudanesa e central. O conto ATU 425A tem a mesma distribuição do anterior a que acrescem a Lapónia, Karélia, Reino Unido, Rússia e Indonési.

Referências de Leite de Vasconcelos Contos e Lendas, primeiro volume (1963) e segundo volume (1966) e o primeiro volume do Romanceiro (1958). 

“O Príncipe Sapo” in Vasconcellos 1963, nº 105
“O Príncipe Urso Doce de Laranja” in Vasconcellos 1963, nº 108, Setúbal
“O Príncipe Urso Doce de Laranja” in Vasconcellos 1963, nº 109
“O Príncipe Bezerro” in Vasconcellos 1963, nº 117, Mangualde, Viseu
“O Encanto do Mar” in Vasconcellos 1963, nº 127