Ti Desterra
(Maria do Desterro Gomes dos Santos)

1939, Póvoa de Varzim

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Filha de pescadores, nascida e criada na Póvoa, casa com um pescador. Ela e o marido compram o primeiro barco em 1962 e dedicam-se à pesca até se reformarem. Os filhos continuam a profissão tradicional da família.
Ti Desterra tem um vivo interesse pela cultura poveira: “Adoro falar da Póvoa… e sei muita coisa sobre a Póvoa porque os meus familiares eram muito antigos (na terra). O meu pai nasceu em 1892 e era o irmão mais novo. Mas conheci as minhas tias, que eram muito serranas a falar, e eu andava sempre atrás delas.
(…) Antigamente não havia rádio, não havia televisões. O que é que fazia um pai com 12 filhos? Quando ia para o mar, ia para o mar. Ficava a mãe. Quando não ia para o mar, à noite, rezava-se primeiro o terço – nós todos tínhamos que saber recitar o terço – e depois do caldo, (…) o meu pai punha-se a contar histórias: histórias do que aparecia – e nós ficávamos cheios de medo; histórias da vida de Jesus; da vida de Carlos Magno (…). Ele contava aquilo tudo porque o meu pai lia muito, lia e explicava-nos. E foi assim que todos nós começámos a contar histórias. Os meus irmãos sabiam todos contar histórias. E já moços com 15 anos (…) quando o mar não dava sentavam-se todos ao redor, no chão, e um no meio a contar histórias. Contavam histórias das princesas espadachinas, a história do Zé da Burra (…) que, por vezes, demoravam muito para contar. Eles encaixavam tudo na cabeça e contavam. E tudo ali. Ninguém piava!”

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