Filha de pescadores, nascida e
criada na Póvoa, casa com um pescador. Ela e o marido compram o primeiro barco
em 1962 e dedicam-se à pesca até se reformarem. Os filhos continuam a profissão
tradicional da família.
Ti Desterra tem um vivo interesse
pela cultura poveira: “Adoro falar da Póvoa… e sei muita coisa sobre a Póvoa
porque os meus familiares eram muito antigos (na terra). O meu pai nasceu em
1892 e era o irmão mais novo. Mas conheci as minhas tias, que eram muito
serranas a falar, e eu andava sempre atrás delas.
(…) Antigamente não havia rádio,
não havia televisões. O que é que fazia um pai com 12 filhos? Quando ia para o
mar, ia para o mar. Ficava a mãe. Quando não ia para o mar, à noite, rezava-se
primeiro o terço – nós todos tínhamos que saber recitar o terço – e depois do
caldo, (…) o meu pai punha-se a contar histórias: histórias do que aparecia – e
nós ficávamos cheios de medo; histórias da vida de Jesus; da vida de Carlos
Magno (…). Ele contava aquilo tudo porque o meu pai lia muito, lia e
explicava-nos. E foi assim que todos nós começámos a contar histórias. Os meus
irmãos sabiam todos contar histórias. E já moços com 15 anos (…) quando o mar
não dava sentavam-se todos ao redor, no chão, e um no meio a contar histórias.
Contavam histórias das princesas espadachinas, a história do Zé da Burra
(…) que, por vezes, demoravam muito para contar. Eles encaixavam tudo na cabeça
e contavam. E tudo ali. Ninguém piava!”