Estamos em Torres Vedras, no
Largo de São Pedro, em frente da igreja antiquíssima, de que há notícia já no
tempo de Afonso Henriques. Foi reconstruida no século XVI, mantendo ainda o
belo portal manuelino, encimado pelas armas de D.Maria, terceira mulher de D.Manuel I… primeira… não, segunda, depois da irmã mais velha… casada com o filho
do rei… não, com o filho do primo do rei… enfim, ali estão as armas de D.Maria,
Rainha espanhola de Portugal…
E eis que, ainda mal nos
encontramos, você já compreendeu, primeiro, que não sou de cá, mais pela
pronúncia do que pelo desconhecimento da história, e, segundo, que talvez não
me deva levar muito a sério. Na verdade, o pretexto deste nosso encontro
imaginado não é a história oficial de Torres Vedras, a verdadeira, se existe
tal coisa… Não, o que lhe quero contar é antes uma história insólita da cidade,
uma história que terá tanto de verídico como de imaginado, e, em ambos os
casos, inverosímil. E não apenas pela tendência inata deste narrador em fugir
aos factos, num impulso efabulador, confesso, incurável, mas porque, de facto,
há coisas que aconteceram aqui em Torres Vedras que parecem impossíveis, e
outras que realmente o são…
Começo o meu relato no
outono de 1807, a alguns quilómetros a sul, em Lisboa, durante a primeira
invasão francesa. Aí se instalara o general invasor, o famoso Junot, no Palácio
do Barão de Quintela. Num dos seus passeios para ir admirar o Mosteiro dos
Jerónimos descobriu os pastéis de Belém e ficou obcecado. Regressava sempre que
podia, ou mandava que os fossem buscar para o pequeno almoço. Chegou mesmo a
enviar algumas caixas a Napoleão, que ficou estarrecido, entre o encanto e a
mais profunda inveja.
...
Texto e performance: Luís Correia Carmelo.
Tradução: Sofia Maúl
Música e ambientes sonoros: Miguel Neto.
Instalação plástica pop-up: Carlos Augusto Ribeiro
Coordenação e web: José Barbieri
Multimédia: Rafael Del Rio
Produção: Memória Imaterial CRL
Projeto: LU.GAR.TERRITÓRIOS CULTURAIS
Público-alvo: todas as idades.