A instalação implementa uma leitura artística dentro do contexto do culto e celebrações do Império do Espírito Santo e compreende uma estrutura escultórica piramidal assimétrica e uma imagem em movimento (painel vídeo) complementada com testemunhos audio de praticantes deste credo e celebração.
Esta intervenção utiliza em simultâneo o espaço físico e o espaço virtual, constituindo-se como um objeto artístico híbrido. A escultura existirá em simultâneo como estrutura real ancorada a um determinado espaço evocativo do Império do Espírito Santo e como objeto virtual implementado num espaço imaterial. O vídeo e restante material complementar são difundidos aqui no espaço virtual, mas conectados à escultura física por QRcode.
Inspiração
A origem ideológica desta
celebração e culto estabelece-se com a proposta do cisterciense Joaquim de
Fiore (1135-1202) de dividir a história em três eras ou impérios: o do Pai,
cruel e tirânico, já passado e muito injusto (correspondente ao Antigo Testamento),
o do Filho, todo bondade mas cujos tempos são ainda imperfeitos (do Novo
Testamento), e o Império do Espírito Santo, que viria trazer a verdadeira
justiça aos homens.
O Império do Espírito Santo representa uma revalidação e uma
tentativa de implementação da doutrina libertadora do cristianismo original:
somos todos iguais sob o olhar de Deus e não há hierarquia social ou económica
que se sobreponha a esta entre a humanidade.
As celebrações, em Portugal, foram institucionalizadas há 700 anos mas as manifestações
deste culto existem há mais tempo, corporizando um conjunto de iniciativas e
empreendimentos baseados na solidariedade geral, estruturada na entreajuda
esclarecida e ponderada. A representação iconográfica deste culto é tão vasta
como a diversidade das celebrações a ele dedicadas.
Escolhemos apresentar uma intervenção plástica e multimédia que trabalha alguns
destes elementos iconográficos e ideológicos a partir do antigo esquema de
representação pictórica da Santíssima Trindade, do atributo “água” comum a esta
celebração e dos sete dons atribuídos ao culto do Espírito Santo (Sabedoria,
Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Amor de Deus).
Criação: José Barbieri
Imagem e vídeo: Rafael Del Rio
Produção: Memória Imaterial para Câmara Municipal de Alenquer
Seleção áudio: Filomena Sousa
Excertos de vozes retirados
dos registos etnográficos realizados em 2022 para inventariação das
Festas do Espírito Santo de Alenquer (Memória
Imaterial): Carminda Honrado da Ota; Teresa Serrão da Aldeia Galega, Maria
Helena Rodrigues de Pereiro de Palhacana, Sandra Pintéus da Paúla e Duarte João
Oliveira de Alenquer.