José Manuel Pinto nasceu em 1920,
em Pavia, concelho de Mora, Alentejo.
Começou a vida como pastor aos 5 anos,
ajudando o maioral da Herdade Valdanta com um rebanho de vacas.
Analfabeto,
ouvia “estas coisas” ao pai, à mãe e às pessoas mais antigas. Aprendia tudo e
nunca mais se esqueceu. Uma doença grave prendeu-o à cama durante meses, aos 7
anos. Ouvia as pessoas comentarem a sua morte quase certa.
De volta ao
pastoreio, sozinho com um rebanho de porcos, e recordando a experiência de
quase morte criou as suas primeiras décimas:
“… fui fazendo, fui decorando, fui decorando e
hoje já tenho esta idade (87 anos) e ainda tenho aqui tudo decorado. É assim:
Já
me sinto a desfalecer
e acabada está a minha vida
adeus mundo e adeus mundo,
muito custa a despedida… “
Jovem adulto, continua a fazer
décimas ao sabor das suas experiências de vida, a cantar e a contar contos e
anedotas, aperfeiçoando a sua arte narrativa. Conhecia contos sem fim. Foi um
dos últimos protagonistas de uma época de ouro da cultura tradicional
alentejana. Um tempo em que dois amigos se punham à esquina a trocar décimas,
em que se contavam contos pela noite fora, em que o cante se ouvia espontâneo
em cada casa, nas tabernas e nos campos.