Pintura paisagista ou pintura de paisagem: designações de um género específico de pintura. No sentido de uma representação cuja referência visual é um território físico particular. A paisagem, entendida como reprodução e testemunho de um modo de olhar a natureza, precede a terra, o território (o original). Outrora, atravessava-se terras e regiões. Aliás, a palavra ´paisagem’ é ignorada na Europa até ao século XVI. A terra é, em certa medida, o grau zero da paisagem. Por não ser imediatamente paisagem, a terra carece de uma elaboração da arte (artialização), seja ela directa (in situ) ou indirecta (in visu). A paisagem é uma invenção. Uma realidade que depende da operação perceptiva do sujeito e cujo valor estético é sempre conferido e acrescentado pela arte e pela cultura humanas.
Alain Roger afirma haver duas condições para a invenção da paisagem ocidental: a laicização dos elementos naturais e a organização dos elementos naturais em um grupo autónomo. Assim: a laicização e a unificação. Até ao século XV prevalece nas representações visuais uma visão simbólica e esotérica do meio natural. Os lugares estavam subordinados aos mitos ou às necessidades da acção dramática; os campos (na acepção rural) são meras indicações cénicas, alegorias moralizantes. As grandes escolas paisagísticas são septentrionais: Flamenga (século XV), Países Baixos (século XVII), Inglesa (século XVIII), Francesa (século XIX) com a Escola de Barbizon e o Impressionismo.
A presença física do homem num território por ele atravessado é uma forma de modificar culturalmente o significado do espaço e o próprio espaço, transformando-o em lugar. Em Walkscapes – O Caminhar Como Prática Estética (2015), assinalando as relações entre o percurso e a arquitectura, entre a errância e o menhir, Francesco Careri apresenta o caminhar como uma construção (arquitectura) simbólica do território, consistindo numa acção que é, em simultâneo, acto perceptivo e acto criativo, pois que é leitura e escrita do território. O percurso é tomado como forma estética à disposição da arquitectura e da paisagem. O percurso comporta três dimensões: o acto de travessia (o percurso como acção do caminhar) e a linha que atravessa o espaço (o percurso como objecto arquitectónico) e o relato do espaço atravessado (o percurso como estrutura narrativa).
A paisagem física provê a fundação para as memórias, as associações e a origem de raízes (enraizamento) de um grupo de pessoas. Ela é o resultado de acções passadas e de uma interacção entre humanos e o mundo natural. Os homens ‘insuflam’ espírito aos lugares por intermédio das suas acções e experiências. Um padrão de acontecimentos em lugares específicos pode contribuir para (influir sobre) a percepção do sentido de um lugar. Sendo que o sentido de um lugar (‘sense of place’) indica uma espécie de reacção e/ou interacção com um dado lugar ou paisagem. (Roe e Taylor, 2014: 14).
Por vezes, mais do que a realidade material de uma paisagem, evidencia-se a paisagem enquanto expressão de mudanças e visões sociais e culturais.