Cézanne e a paisagem

Paul Cézanne (Aix-en-Provence, 19 de janeiro de 1839 — Aix-en-Provence, 22 de outubro de 1906) foi um pintor pós-impressionista francês, cujo trabalho forneceu as bases da transição das concepções do fazer artístico do século XIX para a arte radicalmente inovadora do século XX. Cézanne pode ser considerado como a ponte entre o impressionismo do final do século XIX e o cubismo do início do século XX. A frase atribuída a Matisse e a Picasso, de que Cézanne "é o pai de todos nós", deve ser levada em conta.

"Autorretrato com fundo rosa", 1875

Segundo Cézanne,
«[…] A arte é uma harmonia paralela à natureza. […] Toda a vontade [do pintor] deve ser de silêncio. Deve fazer calar dentro dele as vozes de todos os preconceitos, esquecer, esquecer, fazer silêncio, ser um eco perfeito. Nessa altura toda a paisagem se inscreverá na sua placa sensível. Para ser fixada na tela, para ser exteriorizada; o ofício intervirá depois; mas o ofício respeitador, que só estará à espera de obedecer e, por conhecer de tal modo a sua língua, traduzir inconscientemente o texto que decifra, os dois textos paralelos, a natureza vista, a natureza sentida, […] e que devem amalgamar-se para durar, para viver uma vida meio humana, meio divina, a vida da arte […] A paisagem reflete-se, humaniza-se, pensa-se em mim. Eu objetivo-a, projeto-a, fixo-a na minha tela.»
(Gasquet, 2012: 64)

"A Residência do Jas de Bouffan" (1878)

O processo e o tempo

Ver atentamente a superfície de uma pintura (imagem estática) é o meio de se aceder ao processo da sua construção. Ao tempo da sua construção. A pintura mostra-nos o tempo congelado, fossilizado, fixo. Precisamente, o tempo da sua construção por meio de marcas (traços e pinceladas). Traços e vestígios mediante os quais a tinta é depositada na superfície do suporte. O sentido geral do quadro é apreendido imediatamente. Tudo está claramente exposto perante nós. Antes de ser uma paisagem para ser admirada de uma certa distância, a superfície da pintura é, em certa medida, uma paisagem.
Enquadramento, tonalidade (degradé), simetria, tabulação são exercícios de uma visão que transforma em quadro o estado caótico do universo (Debray, 1992: 204).