Produção de paisagens virtuais através de algoritmos. Ver uma paisagem onde está unicamente um programa matemático.
Cézanne: «A natureza não é em superfície, é em profundidade. Nessa superfície as cores exprimem essa profundidade. Sobem desde as raízes do mundo. São a sua vida, a vida das ideias. O desenho, ele, é todo abstração. E por isso não deve ser separado da cor. É como se quiséssemos pensar sem palavras, com algarismos puros, símbolos puros. É uma álgebra, uma escrita. Logo que a vida o atinge, logo que ele significa sensações, fica colorido. A plenitude da cor corresponde sempre à plenitude do desenho. […]» (Gasquet, 2012: 85)
Hoje, a pintura de paisagem perdura na prática de inúmeros autores que continuam a arte mas, em simultâneo, irrompe por novos campos, médias e suportes.
O digital abre horizontes inesperados com a capacidade de criar novos universos, novas paisagens virtuais.
Os objetos fractais desafiam a lógica geométrica convencional. No entanto encontramos numerosos exemplos de organização geométrica em formas vivas. Hoje é possível reproduzir ou criar uma imagem de paisagem “natural” a partir da aplicação de matemática e geometria fractais, um processo utilizado para gerar imagens virtuais com e sem animação. Mas os mesmos processos podem ser utilizados na criação de ambientes que descolam da descrição do “real” para mergulharem na invenção de novas paisagens. Curiosamente estas novas ambiências mantêm uma familiaridade com o ser humano, quase como se reconhecêssemos nos seus padrões estranhos uma paisagem “natural”.
Imagens produzidas por Rafael del Rio
Um fractal é um objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objeto original. Diz-se que os fractais têm infinitos detalhes, são geralmente autossimilares e de escala. Em muitos casos um fractal pode ser gerado por um padrão repetido.
Árvores e fetos são pseudo-fractais naturais que podem ser modelados em computadores que usam algoritmos recursivos. Esta propriedade de recursividade ou repetitividade está clara na folhagem de um feto, onde pode ser observada uma réplica - não idêntica, porém semelhante na estrutura.
(Wikipedia, 2019)
A natureza forma padrões – uns ordenados no espaço e desordenados no tempo, outros ordenados no tempo e desordenados no espaço. Alguns são fractais, ostentando estruturas que se repetem a si mesmas em todas as escalas. As formas são definidas pela iteração (e não pela resolução) de uma equação num ciclo de feedback. Resultado: padrões semelhantes em todas as escalas, mas todos eles diferentes. «Na realidade, nenhuma parte do conjunto [quando ampliado por um microscópio do computador] é exactamente igual a qualquer outra parte, em qualquer ampliação.» (Gleik, 1989: 296)
Estamos distantes das condições que originalmente nos moldaram mas somos naturalmente atraídos pelos elementos dos lugares que para os nossos antepassados podem ter traçado a diferença entre a vida e a morte. Os topos das colinas, as vertentes de escarpas viradas para a água, os lugares onde podemos ver um máximo de área sem sermos vistos, zonas arborizadas.
“… Nós gostamos de árvores que apareçam em matas dispersas e apreciamos que as nossas árvores tenham copas amplas e baixas e troncos grossos, como as acácias que, por norma, se veem em África. As nossas preferências não parecem ter uma origem cultural…” mas biológica.
«[…] um considerável corpo de investigação científica sugere que a
exposição a qualquer tipo de imagística natural – até um belo quadro de
paisagem […] - pode exercer efeitos benéficos sobre o nosso corpo e
mente.» O apelo humano pelo mundo natural bem como o seu impacto
(tangível e intangível) sobre a nossa vivência quotidiana explicar-se-ia
pela estrutura matemática comum à natureza e ao cérebro humano: «[…] há
algo na estrutura matemática profunda dos cenários da natureza que os
nossos cérebros estão programados para procurar. […] a nossa atração por
uma cena natural pode estar relacionada com as suas propriedades
fractais.»
(A Alma dos Lugares, Colin Ellard, 2019)