Mário Casimiro

A nossa vila é muito pictórica, há muitos lugares apetecíveis para pintar… mas cada pessoa tem a sua marca. Eu trabalho com espátula ou pincel, aquilo que der mais jeito no momento e gosto de pôr luz nos meus trabalhos. As cores devem ser todas postas na pintura, essa mistura é que é a riqueza do trabalho. E um desenho bem feito é o segredo de uma boa pintura de paisagem.

Transcrição:

MC:  O gosto pela pintura já vem, de fato, de muito novo. Desde... Desde a escola, não é? Mas..., mas esta, foi um pouco por acidente, digamos assim. Eu tive mesmo um acidente. E depois na sequência disso, aqueles dias de... que eu estive com baixa, foi um escape que eu encontrei para enfim, para tornar os dias menos complicados, porque foram dois anos com baixa, não é?

E, então, foi por aí. Comecei com umas aguarelas. Com uns bocados de platex. E depois comecei. Foi assim. Um pouco assim.… espontâneo.

JB: Quais são os sítios de Alenquer que mais gosta de pintar?

MC: A Vila, indiscutivelmente. A Vila. A Vila é um lugar por excelência. É como diz o senhor João Mário: "a nossa Vila é muito pictórica." Há várias Vilas que ele considera muito boas para esta área da pintura. Por exemplo, Óbidos, Alenquer. Outros... outros lugares que ele pintou. Muito, também. E mas que não são assim tantos como isso.

Essa, por acaso, até nem gosto assim tanto. Foi a que eu apanhei ali mais à mão. É como lhe digo. Os trabalhos de Alenquer já normalmente as pessoas querem. Gostam do local de onde são. Neste caso, Alenquer. Onde eu expus várias vezes. E algumas obras que me compraram foi... normalmente, eram de lá. Não é?

Do Terreirinho, há ali um miradouro, perto da Escola Damião de Góis. Algures por aí. É de aí. Ali uma rua que que sobe, fica ali perto da escola. Da escola antiga. Acho que era a Escola Damião de Góis. Depois, existe ali um pequeno miradouro, que eu tirei a fotografia de aí. É mais ou menos ali da... onde está aquela palmeira. Algures por ali. Digamos que isto é o lado oposto ao outro, não é? Algures por aqui. Aqui por baixo. E aqui nesta, que é uma rua, não é? Existe aqui um pequeno miradouro e foi de aí que eu tirei a fotografia. Digamos que eu… os Paços do Concelho ficam cá deste lado. Está a ver? E eu tirei aquela fotografia, foi mesmo lá do... da Câmara. Dos paços do Concelho para lá. Portanto, é aquela perspetiva que existe ali. E este é o lado oposto. Da outra, não é?

Lá está. Também de fotografia. Mas a fotografia serve mais... Fotografias que eu fui lá ver, fui lá fazer. Mas depois, a fotografia é mais como... indica-me a parte do desenho, não é? Porque depois o resto é trabalhado. Nomeadamente, as cores. E algum pormenor que eu quero colocar ou retirar. Retirar, não preciso. Basta não pintá-la, não é? Portanto, é por aí.

O Arco dos Pinéus. É, assim, um sítio ótimo. Se calhar porque, um pouco por... por simpatia. Ou porque alguém também já disse que era. Eu próprio considero que é. Um dos motivos de Alenquer mais apetecíveis para pintar. Pela... pela arquitetura do lugar. Do sítio. Da casa em si. As flores que estão lá normalmente agregadas, que sempre lá estão.

Aqui deste lado, nem tanto. Mas do outro lado, existem sempre flores. Havia buganvílias que dava uma certa cor ao espaço. Os próprios telhados. Havia ali umas, uns limoeiros, umas árvores. Havia ali uma certa perspetiva que aquilo era... era muito boa para pintar.

Penso que para uma pintura resultar, há pessoas que não precisam, O Sr. João Mário não precisa. Não precisa de lá por flores. A própria pintura dele tem as cores todas. Ele tem lá tudo. Como ele diz. "Parece que não estão, mas estão. As cores estão lá todas". É o que ele nos diz.

Ali assim, ao princípio da tarde, porque a sombra está aqui deste lado.

JB: Há alguma hora que goste mais? Mesmo quando vai só tirar fotografia para pintar?

MC: Sim.

JB: Há uma hora melhor, para si?

MC: Sim. Normalmente à tarde. Para se obter uma boa fotografia, para ter todos aqueles... Aquela ajuda que nós precisamos para depois conseguirmos dar, imprimir ali a luz. Realmente à tarde. É sempre melhor. Quase à noite. Quase à noite. Sim, ao entardecer. O entardecer, onde existem já sombras. E outras partes com mais luz. Porque... eu gosto de dar, assim, luz nos trabalhos que faço. Eu acho que a luz é importante.

Sim, é só óleos. Trabalho com espátula ou com pincel. O que me dá mais jeito no momento, não é? Depois uso aqui um óleo, pode ser terbentina, pode ser um óleo de linho. E depois serve para quê? Para... Às vezes, há necessidade das tintas ficarem mais diluídas. Quando é numa primeira base, digamos assim. Quando é numa tela, não é? A primeira abordagem convém estarem um pouco mais diluídas. Porque a tinta de óleo é espessa, não é? Diferente de outras tintas.

Por exemplo, os acrílicos, já é mais fácil. Mais fácil, mas não têm aquela textura que tem o óleo. É diferente. São diferentes. Portanto, se eu quero mudar para uma cor diferente, tenho que limpar. Cá está.  Depois, e é por isso que eu uso estes panos velhos, para... Mas, às vezes, quando há necessidade de fazer uma mistura mais... assim, melhor. Mais conveniente é mesmo com a própria espátula. Com o pincel já tem que ser mais, uma pincelada mais rápida e sem mexer muito o pincel, porque depois as cores acabam por se misturar umas com as outras. E, então, aquilo que se exige, a cor que se exige naquele momento, em determinado sítio, tem que ser de uma vez só.  Portanto, a mistura é feita na paleta. E depois quando se vai para a tela, já é só de uma vez.

Isto é a experiência. E aquilo que eu tenho verificado também. Quando ele está a pintar. Isso aí é uma... aqueles momentos que a gente não pode perder nunca, não é? Tanto eu, como as pessoas que lá andam. Vê-lo pintar, realmente para quem gosta de pintura, é um espetáculo, não?

No meio fica o branco para ajudar a fazer as misturas. O senhor Mário dizia sempre: "as cores põem-se sempre. Todas as cores que tivermos. E se forem muitas, melhor ainda." Porque há pintores que usam as primárias, só. E depois fazem a partir daí tudo. Mas como atualmente já temos o trabalho facilitado, não é? As cores já são diversas. E, se calhar, facilitam um pouco mais. Mas ele diz que as cores têm que se colocar lá todas. E essa mistura é que é realmente a riqueza do trabalho.

Se bem que o desenho, como ele diz, é fundamental. Quem pinta, é fundamental o desenho. Para quem quer pintar coisas assim, mais ou menos, nesta área da pintura. Se vamos para os abstratos ou tudo isso, já não é necessário. Portanto, aquilo... sem minimizar esse tipo, essa área da pintura. Há excelentes artistas também, com certeza. Mas que tem a ver com outras coisas. Se calhar, a criatividade da pessoa e as cores, também, que conseguem. Aqui tem que ser realmente o desenho. O desenho bem feito. É o princípio de uma boa pintura. Isto são palavras do senhor João Mário. E eu partilho da opinião dele.

Nas primeiras, principalmente nas primeiras exposições que eu fiz, vendi já bastantes trabalhos. Não estou rico, ainda. Mas também... quer dizer, nessa perspetiva do dinheiro, não. Mas, enfim, sou rico de outra maneira. De outra forma. Considero-me uma pessoa... pelo menos, sou feliz. É o que importa. Acho eu.