É provável que a Rua dos Penozinhos (actualmente o troço sul-norte da Rua do Recolhimento, antes, Rua do Jardim),
ligasse a actual Rua de Santa Cruz do Castelo às casas de Dom Fradique. Nessa rua viviam Francisca Mendes, mulher rica avaliada em 650 000 réis nos seus fornos e atafonas e, próximo do Adro de Santa Cruz, 2 filhos e 1 neta de Gil Vicente, respectivamente Paula Vicente, em casa própria, Luís Vicente e Maria Tavares.
Melícia Rodrigues, viúva de Gil Vicente, (…) habitava nos Paços Velhos com o guarda braçal, 1 tabelião e mais 9 braçais, 5 deles mulheres (1 parda) e 1 cego.
Mas a mais importante visitação que a Alcáçova
recebeu, pode ser contada assim:
Num domingo de Junho
de 1502, começou
a Rainha D. Maria, segunda
mulher de D. Manuel, a sentir que em breve ia ser mãe. Estava no Paço da Alcáçova,
erguido no alto da cidade, deitada em magnífico leito
de pau-santo, lavrado
à maravilha e emoldurado pelas
grandes alcatifas e panos de Arras. (…) O ar estava pesado. Uma calma pairava sobre a cidade
e o Tejo semelhava uma placa de prata com as caravelas, urcas e naus, imóveis,
como fixadas. (…)
Às 2 horas da madrugada, segunda-feira, 6 de Junho, nasceu um príncipe nessa câmara da Alcáçova. (…) Dias depois do príncipe D. João nascer, nascia também, na mesma câmara luxuosa do paço da Alcáçova, com o monólogo do Vaqueiro, o Teatro Português.
António Borges Coelho, "QUADROS PARA UMA VIAGEM A PORTUGAL NO SEC. XVI", Caminho (1986)
JOANA CRAVEIRO, “GIL VICENTE ÀS PORTAS DO SÉCULO XXI OU JÁ NO MEIO DELE”, INÉDITO (2021)