Beco dos Fróis

Logo no início do beco uma placa de letras pretas nos sublinha essas outras vidas, difíceis, também elas escuras......

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Prossigamos a nossa jornada e enveredemos por este beco que, na verdade não o é pois tem saída pelo Largo Rodrigues de Freitas. Na verdade, o largo com este nome só nos surge bem depois, ao fim da descida, mas tal designação, vá-se lá saber porquê, começa logo nesta rua estreita. Quem eram os Fróis não o sabemos, mas a casa amarela que fica na esquina bem que poderia ser dos tempos desses Fróis já que constitui um dos poucos exemplares da arquitectura quinhentista.

Ainda que disfarçado, consegue-se perceber o corpo avançado sobre a rua, que mais não é que uma reminiscência das já faladas “balcoadas” que terão sido uma regra da Lisboa daquela época. Enveredemos por este beco, estreito, escuro, silencioso. O pitoresco do cenário não é imaculado. A sensação de insalubridade e de pobreza é real e por mais que nos sintamos atraídos por este beco misterioso, não conseguimos deixar de pensar nas muitas famílias que terão habitado estas paredes, paredes meias com outras onde tudo se sabe e tudo se ouve. Divisões exíguas, escadas empinadas e soalhos de madeira gastos e sujos de vida. São locais onde as vidas das cidades se fazem. Logo no início do beco uma placa de letras pretas nos sublinha essas outras vidas, difíceis, também elas escuras. Mas determinadas em sobreviver. Sítios como estes são propícios ao segredo, “Foi nesta casa em 11 de outubro de 1879 que um grupo de manipuladores de tabaco orientados por Custódio Braz Pacheco, espírito luminoso do operariado portuguez fundou o jornal A Voz do Operário. Em comemoração dêste significativo acontecimento e para honra de toda a classe trabalhadora se inaugurou esta lápide por iniciativa dos corpos gerentes da sociedade de instrução e beneficência. A Voz do Operário em 8 de março de 1931”. Aquele Custódio Braz Pacheco teve direito a uma rua com o seu próprio nome: a “Rua Pacheco” no Areeiro, junto à Praça de Londres. Foi um operário da indústria tabaqueira lisboeta que esteve também no embrião da Sociedade Voz do Operário, que ainda hoje existe, o mesmo que havia fundado em 1863 a União Fraternal dos Operários da Fabricação dos Tabacos, tendo sido seu dirigente. Continuemos este périplo e, antes de chegar ao largo que se abre à nossa frente, viremos à direita pelo beco da Lage.