Largo da Madalena

... tinha cabelos longos, tal como longas são as ruas que por aqui passam...

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Cruzamento de ruas e localização da igreja dedicado à santa mulher que lhe emprestou o nome. Madalena — a meretriz que se tornou santa por ter lavado os pés de Cristo — tinha cabelos longos, tal como longas são as ruas que por aqui passam. Mas é um largo desengonçado, de traçado incerto. Um largo mal cozido entre a Lisboa pombalina desenhada a régua e esquadro e a cidade antiga que não teve tal sorte. A primeira assentou sobre uma vasta terraplanagem que removeu tudo o que restou do terramoto de 1755. A outra aproveitou o que daquela catástrofe ficou e do relevo primitivo da colina para nela se empoleirar e traçar as ruas que a alcançaram.

A igreja dá o nome a este pequeno largo. A ela se acede por patamar com alguns degraus e o portal, de imbricados ornatos, chama de imediato a atenção. Ao entrarmos, vemos a nave única com capelas laterais. As telas da nave, da capela do Santíssimo e da capela-mor, são de autoria de Pedro Alexandrino. Segundo alguns autores, como os olisipógrafos Júlio de Castilho e Luís Pastor de Macedo, o portal é manuelino ainda que outros defendam que a igreja, muito anterior ao terramoto de 1755, nunca possuiu elementos daquela época, indicando que o portal é proveniente da antiga Conceição dos Freires, ou da dita Conceição Velha (na Rua da Alfândega). Talvez a resposta não seja nem uma nem outra. Se observarmos com alguma atenção o trabalho de trépano, de rendilhado vegetalista do dito portal, verifica-se grande semelhança com o da Igreja da Madre de Deus, ao Beato. De igual modo, o trabalho da pedra que o portal evidencia, com um bujardado ritmado, leva a considerar esta peça arquitetónica como neo-manuelina, não atribuível ao séc. XVI. A primeira notícia que se tem desta igreja é do longínquo ano de 1164 quando o prior da Freguesia da Madalena, D. Fuas, lhe faz uma doação. A vida do templo religioso é conturbada, tendo sofrido incêndios e consequentes obras de reconstrução. O terramoto de 1755 não a atinge, tendo ficado de pé, mas o incêndio martirizou-a e destruiu-a por completo. Será reerguida a partir de 1761, tendo apenas mantido, da antiga construção, o alinhamento da planta uma vez que quase mais nada havia restado. Todas as pinturas e tesouros, como o sacrário central com o trono revestido a prata, rodeado por Santa Madalena e Santa Marta, foram consumidos pelas chamas. Em 1783 a nova igreja abre ao público no dia 22 de julho, o dia de Santa Madalena. O adro que hoje existe em frente da igreja, que avança sobre a rua conferindo-lhe alguma dignidade e elevando do chão o templo da santa de longos cabelos, esse, apenas será feito em 1798. Dizem que se encontraram vetustas ruínas romanas quando aquele patamar foi feito. Restos de muros que foram de novo tapados. Não sabemos, pois que outras vidas e outras histórias permanecem por revelar, mas que o início desta colina que marca o relevo da cidade é muito, muito antigo, isso é verdade.