Em tempos antigos era esta rua bem mais plana, pois
que o nível do terreno estaria mais baixo, cerca de 3 metros abaixo da parte
plana da Rua de São Mamede que, no seu limite nascente, se liga a esta nova
artéria. O tapume que se percorreu do lado esquerdo, no final da Rua de São
Mamede, esconde um dos segredos mais bem guardados da cidade: o teatro mais
antigo do país, com mais de 2000 anos. Descoberto aquando da reconstrução de
Lisboa após 1755, foi de novo subterrado para, em cima de tão vetustas ruínas,
se construírem novos edifícios e, assim, se dar casa aos vivos, como havia
preconizado o
Marquês de Pombal, o primeiro-ministro de então, responsável pela
reconstrução da cidade. Teria de se esperar pela década de 1960 para,
finalmente, se colocar de novo a descoberto esta preciosidade arqueológica. Um
edifício imponente e grandioso, virado a sul, ao rio Tagus latino e onde cerca
de 4000 espectadores se sentavam ouvindo, nas noites quentes, actores que
envergavam máscaras e declamavam em latim as tragédias longínquas da Grécia que
de novo tomava vida. Aplausos, gritos, exclamações, assobios encheram este
espaço por muito tempo. A actual Rua da Saudade, quando sobe em direção ao
castelo, sobrepôs-se à antiga Rua do Beco do Bugio Com Sahída, a qual, por sua
vez, se desenhou no mesmo local que o corredor que dividia as bancadas do
antigo monumento romano. Este corredor, a que davam o nome de praecintium, era,
afinal o que os habitantes da cidade romana percorriam para escolherem o seu
assento dentro do hemiciclo das bancadas e que, deste modo, perdurou até aos
nossos dias, nesta nova cidade alheia às comédias e tragédias da vida.