Rua da Saudade

.Um edifício imponente e grandioso, virado a sul, ao rio Tagus latino e onde cerca de 4000 espectadores se sentavam ouvindo ...

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Deve o seu nome a uma possível igreja que terá existido ao fundo da rua, a nascente, talvez edificada no séc. XVII, localizada sensivelmente na confluência com a actual Rua de Augusto Rosa a qual, antes de 1755, tinha a designação de Rua Direita da Porta Travessa da Sé. Antes de ser Saudade, tinha a rua outro nome, bem comprido e muito distinto. Chamavam-lhe Beco do Bugio Com Sahída, não fosse confundir-se com outro beco que não tinha grande serventia pois saída não tinha fazendo assim jus ao seu nome de Beco.  

Em tempos antigos era esta rua bem mais plana, pois que o nível do terreno estaria mais baixo, cerca de 3 metros abaixo da parte plana da Rua de São Mamede que, no seu limite nascente, se liga a esta nova artéria. O tapume que se percorreu do lado esquerdo, no final da Rua de São Mamede, esconde um dos segredos mais bem guardados da cidade: o teatro mais antigo do país, com mais de 2000 anos. Descoberto aquando da reconstrução de Lisboa após 1755, foi de novo subterrado para, em cima de tão vetustas ruínas, se construírem novos edifícios e, assim, se dar casa aos vivos, como havia preconizado o Marquês de Pombal, o primeiro-ministro de então, responsável pela reconstrução da cidade. Teria de se esperar pela década de 1960 para, finalmente, se colocar de novo a descoberto esta preciosidade arqueológica. Um edifício imponente e grandioso, virado a sul, ao rio Tagus latino e onde cerca de 4000 espectadores se sentavam ouvindo, nas noites quentes, actores que envergavam máscaras e declamavam em latim as tragédias longínquas da Grécia que de novo tomava vida. Aplausos, gritos, exclamações, assobios encheram este espaço por muito tempo. A actual Rua da Saudade, quando sobe em direção ao castelo, sobrepôs-se à antiga Rua do Beco do Bugio Com Sahída, a qual, por sua vez, se desenhou no mesmo local que o corredor que dividia as bancadas do antigo monumento romano. Este corredor, a que davam o nome de praecintium, era, afinal o que os habitantes da cidade romana percorriam para escolherem o seu assento dentro do hemiciclo das bancadas e que, deste modo, perdurou até aos nossos dias, nesta nova cidade alheia às comédias e tragédias da vida.