Rua de São Mamede

...e brinda-nos com um tapete lilás nos meses de abril e maio quando os jacarandás estão floridos...

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Continuemos o nosso passeio e subamos. Temos a certeza que por baixo dos nossos pés se sucedem muros, tanques, salas e vestiários, pedras negras que legitimam aquele topónimo que deixámos para trás. Chegamos à Rua de São Mamede. Esta artéria começa plana mas termina em subida dolorosa que nos faz arfar. Um pequeno largo, logo no início, parece dar alento e brinda-nos com um tapete lilás nos meses de abril e maio quando os jacarandás estão floridos. Esta árvore não é nossa, vem da América do Sul e o seu nome provém da língua da tribo Tupi do Brasil. Veio daí e teve honra de figurar no Jardim Botânico da Ajuda quando o seu diretor, Félix Avelar Brotero, aí a plantou nos inícios do séc. XIX.

Mas esta rua é também de um santo, de seu nome Mamede, porque aqui já foi a sua casa... Pequenina igreja que se localizava onde hoje se situa o Largo do Chafariz. Deve o seu nome a Mamede, santo que foi martirizado no longínquo séc. III e na longínqua Cesareia, hoje na atual Kayseri, Turquia, e o seu dia é o 5 de novembro. A igrejinha, essa, parece que já existia no ano 1220, construída na encosta onde poucas construções existiam e onde o campo silvestre chamava a si cabras e ovelhas que por ali pastavam. Aqui ficou até ao grande Terramoto de 1755 que a derrubou por completo. Por tal sorte foi depois mudada para São Cristóvão, mas pouco depois foi de novo relegada para as escadinhas que se avizinham mal se começa a subida para nascente, do lado esquerdo da rua. Essas escadinhas, dedicadas a São Crispim que ali também teve morada, emprestaram-lhe lugar para o assentamento. Teve a igreja de esperar pelo ano 1782 para que o Colégio dos Nobres lhe concedesse um terreno para os lados do Príncipe Real, para aí se instalar definitivamente, e ao culto, em 1861. É então que esta rua perde parte do seu nome e deixa de ser “Nova” emprestando tal atributo à rua onde a nova igreja se constrói. Parece que também por aqui foi a casa dos pais de outro santo, o António, o nosso e o de Pádua. Glorificado lá e nascido aqui, entre nós. Antes de ser António foi Fernando, herdando Bulhões do lado do pai. Nasceu o santo corria o ano de 1195. Mas hoje, que nada mais resta daquela pequena igreja nem de qualquer indício de ter sido o berço de nascimento de tão grandioso santo, o nosso olhar é atraído pelo chafariz que ornamenta o largo.  “De Utilidade Pública” diz a inscrição, e quando a água corre é ver os pombos a deleitarem-se com o precioso líquido. Mas este monumento não pertence ao lugar, apesar de lhe assentar na perfeição. Veio, já há muito tempo, talvez há quase dois séculos, do Lumiar, onde o construíram e, por alguma razão que a razão desconhece, para aqui veio embelezar este largo que, logo depois do terramoto de 1755, ficou conhecido por “Monturos de São Mamede”. Aquele muro alto, que empresta o encosto à rua que circunda o largo, deu acomodação aos tais monturos, escondeu-os, ordenou-os, deu-lhes préstimo.